O filho mais novo
De uma das cronistas mais interessantes do i (Inês Teotónio Pereira) publicado a 1 de Janeiro:
“Os pais deviam tratar todos os filhos como tratam os filhos mais novos. Era tudo mais fácil, tanto para os pais como para os filhos. Com os filhos mais novos não há ansiedade, há apenas mimo. Com eles não se perde tempo a educar, a ensinar, a zangar, a habituar a comer sopa e legumes e a todas essas coisas pedagógicas que achamos fundamental fazer com os mais velhos. Nada disso. Os filhos mais novos existem para nos fazer perder tempo e não para serem educados. Se eles fossem férias, eram as férias de Verão: sol, praia e caipirinhas. Eles existem para os pais se derreterem e para se divertirem.
Os outros filhos não. Os outros são um caso sério. Seríssimo. É preciso prepará-los para a vida: precisam de disciplina, de ter modos à mesa, de criar hábitos de trabalho, de aprender a andar de bicicleta com três anos (como vem indicado nas instruções da bicicleta) e, já agora, de aprender a ler com cinco anos e a distinguir as cores com dois. Já o mais novo não tem de passar por isso. Chegou ao mundo ensinado e se não sabe, se não nasceu ensinado, também não faz mal: tem tanta graça, o espertalhão - "sabe-a toda..." Com os mais novos, nós sabemos exactamente quais os brinquedos indicados, qual o valor relativo da tosse de cão, que não tem mal nenhum não comerem tudo até ao fim, que a esmagadora maioria das crianças acaba por aprender a falar e a andar e que os dentes acabarão por nascer, mais cedo ou mais tarde. Com os filhos mais novos os pais percebem, finalmente, que no fundo o que interessa é que eles passem um bom tempo na nossa companhia. E vice-versa. Tudo o resto é conversa. Fiada.”
Entendível para quem, como eu, tem (pelo menos) três filhos.
Foto_TRojanLama-in_Flickr
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