Um homem providencial

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É raro encontrar na nossa história moderna um homem que reúna um tão vasto conjunto de (bons) atributos políticos como Winston Churchill. Coragem, determinação, inteligência e - uma das suas mais notáveis qualidades políticas – uma fina percepção do mundo e dos homens. Enquanto Lord Chamberlaine se entretinha com Hitler em acordos vazios como o Acordo de Munique Churchill dizia no parlamento britânico que Hitler era um bandido com o qual não se podia negociar. Frontal e lúcido.

João Carlos Espada no i do fim-de-semana traz, sem o estilo gongórico que por vezes o mina, o notável artigo Winston Churchill: Simplesmente, um grande homem. Nele se revisita o Churchill lúcido e corajoso que percebe, muito antes dos outros, os perigos do nazismo e do bolchevismo que minaram a Europa do século XX e captaram, primeiro os intelectuais e depois o povo:

“Conservador antiquado Winston Churchill permaneceu imune à linguagem da revolução e da inovação. Dizia-se que era um conservador antiquado que não compreendia os novos tempos. Mas Churchill compreendia bem de mais os novos tempos. E não gostava daquilo que compreendia.
Churchill era um admirador da tradição liberal do seu país e do Império Britânico.”

É evidente que não é só o homem que me fascina. O seu ideal é-me, ainda hoje, próximo. Revejo-me nele. Nunca gostei de ir em modas. A liberdade como valor fundamental. Citação de Churchill no artigo (1920, sobre o comunismo):

"Acreditamos no governo parlamentar exercido em conformidade com a vontade da maioria dos eleitores, determinada constitucional e livremente. Eles pretendem derrubar o parlamento através da acção directa ou por outros meios violentos... e, depois, governar as massas da nação de acordo com as suas teorias, que nunca foram aplicadas com êxito, e por intermédio de grupos de políticos auto-eleitos ou panelinhas de adeptos.
Eles pretendem destruir o capital. Nós pretendemos controlar os monopólios. Eles pretendem erradicar a ideia da propriedade individual. Nós pretendemos utilizar o grande trampolim da iniciativa humana como meio de aumentar o volume de produção em todos os sectores e partilhar os seus frutos de uma maneira muito mais ampla e equitativa entre milhões de agregados familiares. Defendemos a liberdade de consciência e a igualdade religiosa. Eles pretendem destruir todos os tipos de crença religiosa que têm constituído uma consolação e inspiração para a alma humana."

Um homem absolutamente notável que merece ser sempre revisitado. Porque ainda hoje há gente que não se coíbe em alimentar o ódio que faz florescer os partidos e os movimentos que Churchill sempre combateu e para os quais a Liberdade nada representa.

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Comentários

Rui Silva disse…
Foi um homem notável, de facto. E tanto assim foi que trazer Churchill para falar sobre fascismo e comunismo é quase o mesmo que convidar o Barcelona para jogar com o Sandinenses.

Muito mais interessante seria olhar para os liberais de hoje e tentar perceber onde estão comparados com Churchill. Assim de cabeça, poderias por exemplo pegar no nosso compatriota Durão Barroso, acabado de ser reeleito Presidente da Europa.
Rui Vítor Costa disse…
O problema é que, ao contrário do futebol, o "sandinenses" por vezes domina e nos obriga a todos a jogar o jogo pastoso do pensamento único. Nunca é demais lembrar que o fascismo ou o comunismo nasceram com forte apoio popular, ancorados numa envolvente intelectual "sólida", e a cobro de combater os estrangeiros, os judeus, ou o capital,ou a religião, ou outro "bode" qualquer, privaram os povos da liberdade e cometeram as mais vis atrocidades em prol de uma ideologia ou de um povo.

Lembrar Churchill é lembrar a luta pela liberdade e pelas ideias (não obstante o seu percurso político que o levou a sair do Partido Conservador em 1906 para entrar no Partido Liberal e depois retornar, já na década de 20, ao seio dos conservadores e liderá-los).
No entanto Churchill é um liberal puro, o que não o impediu de (tendo em conta o enquadramento com que fizeste o post) ter lutado enquanto deputado e ministro, nos inícios do séc.XX, pelo Welfare State que ainda hoje temos como modelo no ocidente (pensões para os idosos, serviço nacional de saúde, etc., em que a Inglaterra foi pioneira). Não há qualquer incompatibilidade, como sabes, entre uma economia assente na iniciativa privada e a necessária protecção aos que menos têm, apesar de haver quem hoje agita esse "papão".

Falar da Europa e dos seus líderes é, hoje, um exercício político deprimente que (perdoa-me) não farei.
Agora não será pela mediocridade dos líderes actuais que eu me atirarei nos braços daqueles que querem privatizar o pensamento de um povo ou a minha liberdade individual. Concordo com um Estado atento, sem dúvida. Mas não com um Estado que se senta em cima de mim, ou em cima dos outros. Um Estado que para onde eu me virar ele lá esteja para me vigiar.

Vi há pouco o Testamento do Dr. Mabuse de 1932 que denunciava, com elegância, aquilo em que a Alemanha se estava a transformar (o filme foi proibido pelo ministro Goebbels que apreciou Fritz Lang enquanto era deputado do partido nacional-socialista; o filme só estreou na Alemanha em 1951).
Li há pouco também a "Música da Fome" de LeClézio onde se percebia o fascínio da classe média francesa por um Hitler que viam como tampão contra os bolcheviques e que, pouco tempo depois, os viria a humilhar.

E se há coisa que a História nos ensina é que a liberdade nunca é um dado adquirido. Precisa constantemente de ser defendida.
Rui Silva disse…
Estamos, no essencial, de acordo. E, para te ser sincero, não consigo imaginar numa Europa a tantos (já não é a 15, mas nem sei quanto são), a possibilidade de uma queda no abismo como a que ocorreu com a Alemanha aquando da eleição de Hitler (o caso da URSS teve o seu contexto histórico que também não me parece fácil de repetir).

Não haverá uma maioria sociológica de ruptura. Não acredito que aconteça uma crise tão grave (e só numa situação muito grave isso poderia ser um cenário hipotético) que regimente o apoio popular dessa forma. Estamos muito atentos, e a própria visibilidade mundial que hoje existe através da comunicação social quase que impossibilita que isso possa acontecer. E estamos demasiado europeízados, quer do ponto de vista político, quer mesmo da própria composição social. E ainda bem.

Agora, compreendo o teu pudor em comentar os políticos de hoje. Apenas não gostaria que se desviasse o olhar à mediocridade, com o pretexto da luta pela liberdade e pela democracia (sempre!).

Sei que não és da minha opinião, mas no meu ponto de vista, a reeleição de Barroso traduz um prémio a essa mediocridade. E é aí que infelizmente perdemos... precisávamos bem mais de Churchill's nestes tempos difíceis, do que de Barroso ou Sócrates.
Rui Vítor Costa disse…
Não estaremos tão em desacordo quanto isso. Nutro, é certo, algum apreço por Durão Barroso, mas acho que a sua reeleição foi um processo penoso. Em que a chave foi "incomodar o menos possível".
Quando até os eurocépticos estão com ele, está tudo dito.

A UE é, em princípio, uma garantia que não voltaremos aos tempos negros de há 70 anos atrás, mas a Europa está enfraquecida (os referendos ao Tratado de Lisboa são um exemplo disso e a forma como os governos lidaram com os "nãos" também não me pareceu correcta) e nos tempos de crise e/ou descrédito florescem os extremismos.

Os tempos são outros mas a massa humana é a mesma...
Joaquim Forte disse…
Recomenda-se o documentário sobre a II Guerra Mundial - À Porta fechada, domingos, RTP2
Rui Vítor Costa disse…
Belíssima sugestão. Tenho-o visto e é realmente muito interessante focando aspectos menos conhecidos da II GM, nomeadamente o terrível isolamento que Churchill estoicamente suportou até os EUA decidirem entrar na guerra.

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