Os ladrões de corações
Ser
vigarista do coração é uma espécie muito própria do género mais alargado dos
vigaristas (que tem em Alves dos Reis um notável exemplo), ligando-se
por taxonomia à família mais vasta - e pouco recomendável - dos criminosos.
Ao
ler a notícia do Público de hoje não fiquei particularmente espantado pela
postura dos acusados:
‹Durante sete anos e três meses, o então
foragido à Justiça Lorosa de Matos terá conseguido enganar as duas
ex-magistradas do Ministério Público com quem se envolveu, sem que estas
tivessem percebido a sua verdadeira identidade. Lorosa de Matos, que foi ouvido
nesta quinta-feira no tribunal em Lisboa, garante que as antigas procuradoras
nunca fizeram pesquisas por ele, nem lhe entregaram dados confidenciais. “Elas
foram sempre iludidas”, defendeu, alegando que a única pessoa que estava a par
de todas as identidades falsas seria um amigo que entretanto também se envolveu
com uma das ex-magistradas.
(...)
Apesar de continuar a ser ouvido para a
semana, Lorosa de Matos tentou justificar que, embora tenham partilhado hotéis,
viagens e computadores, as antigas procuradoras nada sabiam. “O falso
convencimento delas advém duma grande mentira, uma grande história, porque
necessitava dela e pela forma como lhes eram transmitidas as coisas”, disse. E
acrescentou: “Se calhar às vezes duvidavam que alguma coisa não batia certo.”
Porém, Lorosa de Matos e o amigo tentavam contornar a situação. “Se em algum
momento souberam, então enganaram-me bem elas a mim”, afirmou. As
ex-magistradas pensariam que se chamava Vasco Chambel e seria inspector da
Interpol. Este foi apenas um dos nomes usados, outros foram Eduardo Carqueja e
Ricardo Moreira.›
Os vigaristas
do coração encarnam normalmente a mentira que engendram. São verdadeiros na
mentira que criam, daí serem tão profundamente eficazes. Quando, finalmente descobertos, são
confrontados com a verdade, recuperam a ética que (só por momentos,
assim o julgam) perderam.
Fotos_Rudolfo Valentino (wikipedia)
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