E se eles jogassem sozinhos?
O desporto de alta competição é acima de tudo, além de um
popular entretenimento, um negócio. Há por isso gente inteligente que sabe que
a competitividade das modalidades traz mais emoção ao desporto e que tudo faz
para que ela efetivamente exista. Assim acontece na popularíssima NBA nos EUA
ou atualmente no campeonato de futebol alemão. Tanto uma como outra competição
têm um enquadramento que lhes garante uma competitividade saudável. Nos EUA as
piores equipas de basquetebol de uma determinada época têm o direito de
escolher os melhores novos jogadores para a época seguinte, na Bundesliga, a
liga de futebol com mais assistência ao nível mundial, o dinheiro que ela gere
é distribuído equitativamente para que as equipas menos apetrechadas possam ir
construindo melhores equipas que, de uma forma geral, reforçam a atratividade
do campeonato alemão.
Em Portugal existem efetivamente dois campeonatos. Um do
Porto, Benfica e Sporting, onde se escalpeliza até à náusea os problemas ou feitos
dessas equipas e um outro campeonato com as outras equipas que mais não são que
uma espécie de “paus de cabeleira” cuja função pretendida é a de,
fundamentalmente, não atrapalhar o percurso das referidas três equipas. Quando
porventura atrapalham, como sucedeu no último jogo do Vitória, cai o “Carmo e a
Trindade”.
Parece-me evidente que esta perspetiva vem sido construída
há anos e os espíritos mais volúveis não resistem a esta lógica mediática
plantada pelos sargentos de ocasião e escolhem, inevitavelmente, torcer por um
dos três clubes referidos. Infelizmente, à exceção do Vitória, a maior parte
dos clubes tem adeptos que não resistem em ter um dos três clubes como segunda
opção, ou por vezes ser o clube da sua terra a segunda opção. Daí que por exemplo
se tenha assistido o ano passado na final da Taça os bilhetes que pertenciam ao
Rio Ave foram, por iniciativa dos próprios sócios do clube de Vila do Conde,
parar à mão de ocasionais benquistas.
Mesmo assim seria preferível dividir a liga portuguesa em
duas. Uma importante com três clubes a – digamos – 10 voltas, onde eles
poderiam discutir à vontade os fora de jogo, as incontinências
verbais dos seus treinadores, as rixas de ocasião. E outra liga – a liga má,
sem troféu não fossem os três ficar ciumentos – onde o resto de Portugal se
poderia divertir sem que a comunicação social instrumentalizada rasgasse as
vestes a qualquer contrariedade.
Já agora, para que os três não sofressem de ocasionais
sentimentos de culpa, proibiam-se na liga
boa os jogadores nacionais. Assim talvez conseguíssemos construir uma seleção
nacional minimamente decente e os três continuassem a alimentar, na liga boa, com particular
competência e generosidade, as grandes seleções argentina, brasileira,
colombiana, argelina e outras que se achasse por bem fomentar.
Fotos em:
Comentários