Se eu fosse Óscar
Nesta época de início de ano, por
influência das nomeações para Oscar e na ressaca da atribuição dos Globos de
Ouro e dos prémios europeus de cinema (EFA), o circuito comercial tem uma
atividade mais interessante do que o costume. Até o Cineclube de Guimarães, não
sujeito a modas, mostrou na sua programação de janeiro um rol de filmes
verdadeiramente fantásticos.
Do que vi para já, destacaria:
LOCKE (Inglaterra, Steven Night)
O filme do ano para mim. Passado
apenas numa viatura em viagem, com um único ator, é a prova mais completa de
que o cinema continua felizmente ainda a distinguir-se por uma boa história (o
argumento é do realizador que tem apenas dois filmes).
Grand Budapest Hotel (EUA, Wes
Anderson)
O cinema também deve ser reconhecível
pelo autor, como o é uma boa voz. Wes Anderson tem desde o início a sua
“marca”. Este filme é a mais perfeita das suas festas cinematográficas, com os
atores do costume (Bill Murray, Adrien Brody, Jason Schwartzman, Owen Wilson) e
outros senhores (Ralph Fiennes, Edward Norton) que no intervalo do seu
ganha-pão decidem dar uma mão a este extravagante realizador.
Dois dias, uma noite (França,
irmãos Dardenne)
Um drama excecionalmente
interpretado por Marion Cotillard (nomeada para oscar e com o reconhecimento de
melhor atriz no EFA). A vida e a dignidade que ela pressupõe.
Ida (Polónia, Pawel Pawlikowski)
Um achado de filme. Sereno,
simples, profundo, com um preto-e-branco sem mácula. Vencedor de vários prémios
no EFA, entre os quais o melhor filme e nomeado para melhor filme estrangeiro.
Boyhood (EUA, Richard Linklater)
Uma belíssima ideia e um projeto
bem resolvido cinematograficamente. Surpreendentemente carregadinho de
nomeações para os óscares e um dos grandes vencedores dos globos de ouro.
Birdman (EUA, Iñárritu)
Talvez fosse com expectativas
demasiadamente altas, apesar de o mexicano Iñárritu sempre me ter irritado um
bocadinho com a sua tentação pela grandiloquência (estragou o 21 gramas e o Babel
dessa forma). No entanto Birdman é um curioso filme com um notável conjunto de
atores e uma boa ideia (infelizmente) não concretizada como mereceria.
Cavalo dinheiro (Portugal, Pedro
Costa)
Se eu tivesse conseguido
segurar-me, nem que de forma ténue, a uma linha narrativa, talvez tivesse
chegado perto de perceber a canonização cinematográfica do filme de Pedro Costa em curso
há alguns meses. De qualquer das maneiras aguenta-se bem o peso do filme, e
deseja-se até que ele seja ponderável e forte como é.
True Detective (EUA série)
A coisa mais diabolicamente
perfeita que vi em série para televisão. Não levou nada nos globos de ouro... talvez
por falta de homossexuais, ou transexuais em papel de destaque. Um Woody
Harrelson perfeito e um McConaughey sublime, ou melhor, um Marty perfeito e um
Rust sublime. E releva, ainda, não os tornarmos a ver juntos.
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