A Celebração
A Coleção de Fotografia da
Muralha (CFM) é composta por 5646 clichês fotográficos de vidro, que se
encontram devidamente acondicionados no Arquivo Municipal de Alfredo Pimenta,
através de protocolo próprio entre a Muralha, Associação de Guimarães para a
Defesa do Património e a Câmara Municipal de Guimarães, votado unanimemente em
reunião de Câmara em Março de 2014.
A história da CFM é longa,
não é meu objetivo abordá-la em profundidade aqui, e contou com o dedicado
empenho de muitos dirigentes da Muralha que a adquiriram, estudaram e trataram,
sendo hoje um dos mais interessantes acervos da nossa história comum que
abrange, fundamentalmente, a última década do século XIX e as primeiras décadas
do século XX em Guimarães.
A maior parte das fotografias
são atribuídas ao fotógrafo Domingos Alves Machado (1882-1957) que foi
proprietário das casas fotográficas Foto Eléctrica Moderna e Foto Moderna e
acompanha, não só, a evolução urbana de Guimarães, como as nossas tradições, os
nossos momentos marcantes enquanto comunidade e as nossas gentes enquanto
personificações meticulosas para o ato da fotografia, durante cerca de
meio-século. Não há na fotografia de Domingos Alves Machado apenas a
preocupação profissional do registo, da encomenda destinada a perpetuar-se
digna num qualquer salão, não. Há mais do que isso, há uma alma forte e
propositada naquelas imagens que nos fazem, cem anos depois, olhá-las sempre de
forma diferente a cada novo olhar, nas horas e minutos de hoje.
Como qualquer boa história, a
CFM teve o seu ponto de viragem que nos levou a um caminho diverso e
surpreendente do que seria expectável. E essa viragem (como um ato de revelação
fotográfica) dá-se precisamente em 2011 no âmbito da Capital Europeia da
Cultura (CEC), sendo este um projeto que sobreviveu e cresceu para além do
evento. Com o projeto Reimaginar Guimarães todas as imagens da CFM foram
devidamente digitalizadas e, sobre a base de informação pré-existente, começou
a ser feito um trabalho de estudo e de arquivo minucioso e com base nas
melhores e mais rigorosas práticas disponíveis.
Não seria possível sem o
envolvimento da CEC e sem o auxílio de muita gente fazer-se o que se fez, mas
seria, da minha parte, injusto, com base na generalização agradecida, não
destacar o Eduardo Brito que com a sua criatividade contida no rigor exigível,
foi o Martim Moniz que deixou a porta aberta para aquilo que a CFM hoje
prossegue. Felizmente, ao contrário do cavaleiro de D. Afonso Henriques, pode
hoje participar no futuro da CFM.
A exposição A Celebração que se inaugura na próxima sexta-feira às 18h30,
no Guimarãeshopping, ao lado da FNAC, faz parte de uma nova direção da CFM, que
está a crescer e a atingir novos públicos, estratégia iniciada no ano transato
com a exposição O Trabalho. Agora procura-se, dentro da CFM, o lado festivo da
comunidade: as festas e romarias, a música, as efemérides, os almoços e
piqueniques, os casamentos, os exercícios de bombeiros e outras manifestações,
nomeadamente as encenações em exterior ou no estúdio fotográfico de Domingos
Alves Machado. Esta exposição, pensada há cerca de um ano, e trabalhada há
vários meses contou com a colaboração de muita gente e procurará que as pessoas
que a visitam possam dar também o seu contributo, na identificação mais precisa
das imagens expostas ou simplesmente através da sua opinião. A ideia é a de que
a CFM tenha um caráter eminentemente vivo e dinâmico, aberto à cooperação no
enquadramento de rigor com que, desde o início, se assumiu. Os textos e
legendas da exposição resultaram da colaboração com António Amaro das Neves,
António José Oliveira, Francisco Brito, Helena Pinto, Maria José Queirós
Meireles e Rosa Saavedra, todos eles ligados à História, e em particular à
nossa, dos escritores Carlos Poças Falcão e João Almeida, de uma instituição
vimaranense unipessoal (António Emílio Ribeiro) e de um curioso (eu).
Esta exposição resulta de uma
parceria entre a Muralha e o Cineclube, e conta com o imprescindível apoio do
Guimarãeshopping, Oficina e Câmara Municipal de Guimarães, assentando,
imponderável, nos ombros sólidos e criativos de Alexandra Xavier, Miguel
Oliveira e Nuno Vieira. À imagem do ano anterior.
Publicado in O Comércio de Guimarães (22.07.15)
Cartaz da exposição.
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