Os meus treinadores



Treinador de futebol é seguramente a profissão do mundo sobre a qual mais gente opina. Quem gosta de futebol tem um treinador dentro de si, que se agiganta tanto mais quanto maior for a modéstia dos resultados da sua equipa. É um facto.


Nos últimos dias fomos bombardeados, mesmo não o querendo, pelos feitos do treinador Jorge Jesus que treinou o Vitória na época 2003/2004 substituindo o treinador Inácio à 14ª jornada dessa época. Nessa triste época acabámos em 14º lugar mas quando Jesus pegou na equipa estávamos abaixo da linha de água. Não me impressionou particularmente a prestação do treinador que foi à sua vida na época seguinte, quando Vítor Magalhães se tornou presidente do Vitória e apostou em Manuel Machado. No entanto Jesus é hoje, e merecidamente, uma estrela, apesar da sua tendência narcísica que me irrita profundamente. Não há nada que ele não faça que, nas palavras dele, não seja excecional. Nem há pergunta a que ele responda sem falar de si próprio e da sua mestria. Vende-se bem. Tenho a certeza que se lhe perguntassem sobre a segunda guerra mundial ele diria que teria ganho a guerra mais rapidamente que o General Eisenhower, ou a palavra que ele escolhesse para dizer Eisenhower. À parte disso diverte-nos sempre um bocadinho: em 16 finais ganhei 17 e perdi 10. Mas como estamos na época dos tontos mesmo estes disparates já parecem normais.



Comecei a ver o Vitória por volta dos 7 ou 8 anos no início dos anos 70. E o treinador era um senhor! Mário Wilson é o treinador que mais épocas treinou o Vitória – cinco épocas intercaladas – e lembro-me de vê-lo a treinar na Amorosa, praticamente imóvel a meio-campo de apito ao peito. Parecia o pai dos jogadores e tinha uma aura de grande respeitabilidade, pelo menos essa era a minha impressão de miúdo. Lembro-me claro da armada de luxo que treinou o Vitória em 81/82, José Maria Pedroto, Artur Jorge e António Morais, e de um jogo que perdemos no pelado do Rio Ave e que nos afastou do terceiro lugar pelo qual lutávamos com o Porto. Passei pelas Caxinas feito estúpido com a bandeira do Vitória ao ombro e nunca fui tão insultado na minha vida como nesse dia. Lembro-me com satisfação da primeira época do Marinho Peres em 86/87, seguramente a melhor época que eu vi o Vitória jogar futebol e que nos deu um terceiro lugar quando poderíamos, não fosse os amigos do apito e a curteza do plantel, termos lutado pelo título nacional. Nunca vi o Vitória jogar tanto como nessa época gloriosa! Lembro-me do sentimental Cajuda que nos subiu de divisão e nos deu outro terceiro lugar (07/08), o que só havia acontecido em três ocasiões (68/69, 86/87 e 97/98). Lembro-me com gratidão de Rui Vitória que além de ter um nome adequado nos conquistou a Taça de Portugal e segurou com mestria os frágeis arames da época 2011/12, uma época muito difícil para uma instituição à beira da rotura financeira. Estou-lhe eternamente grato. Rui Vitória é o segundo treinador com mais épocas no Vitória: quase 4 épocas (veio à 4ª jornada na sua primeira época cá).





Agora o treinador que mais me agradou foi o Quinito. Pelo futebol que as equipas dele apresentavam e pelo espírito. Um homem extraordinário, com um humor que só as pessoas inteligentes conseguem ter. Deu-nos também um terceiro lugar na época em que substitui o Pacheco (97/98). Só esteve aqui uma época por inteiro (94/95), noutras duas veio substituir treinadores, e na última (99/00) saiu em rotura com Pimenta Machado. Adorei o treinador Quinito e a forma como ele encarava o futebol. Estou certo que Pedro Barbosa lhe ficou a dever a confiança na extraordinária criatividade que tinha. Quinito era fundamentalmente um psicólogo e um homem que amava o futebol.



Apreciei o Luís Castro e a sua postura e estou confiante que Ivo Vieira pode ser feliz aqui e deixar-nos assim igualmente felizes, apesar da frustração das últimas exibições. Ivo parece-me um treinador disciplinador e competente. Fiquei, mesmo assim, horrorizado com a falta de soluções táticas no jogo contra o Braga ... mas isso é outro treinador a falar. Eu.


Publicado in Desportivo de Guimarães, a 3 de dezembro de 2019

Imagens: Mário Wilson (obtido de +Guimarães), Quinito (Grupo Santiago) e Rui Vitória (DR)

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