Dá-me o telemóvel, já!






Foi com espanto, vergonha e revolta, que tomei conhecimento pelo YouTube e pelos noticiários nacionais de um lamentável episódio em que uma aluna do 9ºano da Escola Carolina Michaelis, no Porto, se atira (literalmente) à sua professora pelo facto daquela lhe ter retirado o telemóvel na aula. As imagens foram captadas pelo telemóvel de outro aluno da mesma turma, em estado generalizado de demente euforia pelo sucedido, e ouvem-se comentários absolutamente inacreditáveis na refrega como, por exemplo, “olha, a velha vai cair” ou, entre colegas, “ó gorda, ó pachona (traduzido pelas redacções centrais de Lisboa pelo enigmático “peixona”), sai da frente!”.
As imagens chocantes desta luta estão a ser retiradas da internet (uma difícil tarefa é certo), mas não o deveriam ser, pois espelham a mais triste realidade para a qual deveríamos todos olhar de frente e sem paliativos.
Espero que a discussão continue e nos obrigue a todos a pensar e a tomar posição, mas que não seja em torno dos telemóveis mas sim das atitudes. Não é a proibição dos telemóveis que deve estar em causa - eu utilizo-os em contexto educativo com óptimos resultados – mas o estado de degradação cívica e moral a que se chega em domínios fundamentais como os da educação.


É no que dá anos e anos de falta de exigência e de filosofias e políticas educativas em que o professor é o mau da fita e o aluno a pobre vítima que só poderá chumbar depois de preenchidas centenas de páginas de justificações.
É no que dá a progressiva retirada de autoridade aos professores.
É no que dá as recentes políticas de desprestígio da classe, de ataque despudorado aos professores, para gáudio, é preciso dizê-lo, de muita da gente que assiste.
É preciso entender que a dimensão da manifestação de professores de que Lisboa foi palco a 8 de Março não é fruto desta ou daquela linha política, nem sequer de uma ou outra imposição governamental; a sua espantosa dimensão numérica e ética foi tão só um genuíno desagravo corporativo. Uma forma sólida de dizer ao país que os professores estão fartos de ser desprestigiados, de forma reiterada e injusta.
Como é óbvio, por contraposição à vilania reinante, há excelentes exemplos. E por isso eu dedico este meu pequeno desabafo aos meus excelentes e educados alunos. E ainda ao Manuel Alegre que em relação aos professores tomou posições dignas de um Chefe de Estado…

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