Neve de Primavera


É difícil pensar em algo tão irritante como este “algodão dos choupos” que anda no ar de Guimarães. Esta neve de primavera seca e dançarina. Calcar cocó de um cão, perder a última moeda na sarjeta, ou mesmo acordar ao som do alarme do vizinho que foi passar quinze dias à Austrália, são já irritações de segunda comparada com esta que nos entra pela casa e pelo nariz todo o santo dia.

Já não é o primeiro ano que acontece, mas todos os anos a minha surpresa é total. Por vezes duvido que esteja mesmo na minha cidade. Parece que estou numa outra cidade, quiçá numa outra dimensão em que o sonho resvala para o pesadelo.

Não se pode abrir nada! Desde a janela do carro, à porta de casa ou ao porta-moedas, esta neve seca entra e fica. E não se pode varrer, nem sacudir. Baila à frente dos nossos olhos e entra e fica. E não se fica só dentro das coisas, como parece querer ficar dentro das pessoas. Sinto ter um novelo destas coisas nos pulmões que chegaria para tricotar a camisola de um gigante.

Acordem-me por favor!


excerto de crónica publicada n' O Comércio de Guimarães

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