As voltas do Toural

 

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Muito se tem dito sobre o Toural e sobre o “seu” parque de estacionamento…

Apesar de estar arredado da política autárquica, participei no arranque do projecto enquanto Vereador, não no plano da decisão (pois nada de relevante, sobre este assunto, foi votado enquanto lá estive) mas no plano de reflexão dentro e fora do órgão Câmara Municipal no qual, diga-se, participei com muito gosto e honra.

Acho que é altura de reafirmar a minha opinião neste cantinho d’ O Comércio de Guimarães. Apesar do exercício ser, eventualmente, vão. Paciência.

Em Setembro de 2007 o Presidente e os Vereadores do PS apresentaram, com pompa e circunstância, os 5 projectos para Guimarães numa grande operação mediática.

E quais eram os 5 projectos? O Campurbis (apesar de aprovado unanimemente desde Março de 2007 entrou no pacote), a Feira Semanal, a Veiga de Creixomil, o Antigo Mercado e o Toural e abAlameda. A Feira está em vias de conclusão, a Veiga foi abandonada, sobre o Mercado há dúvidas e o Toural e a Alameda levaram uma volta de 180º.

A maioria destes projectos de recuperação continham, disse-o na altura em nome do PSD, um pecado original: o de não estarem ancorados numa Sociedade de Reabilitação Urbana (SRU) capaz de envolver os particulares na reabilitação do nosso espaço físico, dando-lhe incentivos e condições favoráveis, e resguardando a Câmara Municipal da acumulação pouco saudável de património e de pessoal. Aliás a Câmara arrisca-se, por este caminho, a ter brevemente o seu orçamento municipal basicamente cativado pelas despesas correntes na manutenção de equipamentos e do pessoal a eles adstrito.

Defendi a SRU desde 2006 integrada no projecto global da Capital Europeia da Cultura em 2012 (CEC), no sentido de esta deixar marcas palpáveis no nosso património edificado, muito para além do tempo em que a CEC decorrer e obstando a que esta, ao nível da reabilitação, seja um exercício solitário da Câmara Municipal. Esta foi uma oportunidade de ouro para a criação das bases de uma reabilitação urbana sustentada e participada.

Das batalhas políticas que mais me custou perder foi a da deslocalização do Mercado Municipal. Muitas vezes na vida e na política têm-se convicções fortes, a roçar a certeza, e foi isso que me aconteceu a mim e a muitos outros na questão do Mercado. Atingiu-se o coração da cidade retirando-lhe o seu Mercado, num exercício político inútil, irrecuperável e dispendioso. Abriu-se então um imenso vazio no coração da cidade, dificilmente recuperável.

Quando se decide “inventar” faz-se geralmente asneira. Foi assim, claramente, na questão do Mercado.

Sempre entendi o primeiro projecto do Toural como mais uma “invenção” para espantar o povo. Entendi que a revolução no Toural com os seus túneis e estacionamento subterrâneo era uma “fuga para a frente” guiada pela frenética mania das obras. Achei o projecto pesado e comprometedor da harmonia arquitectónica da Praça e cuja complexidade da obra iria acabar de vez, pelo tempo, com o comércio que ainda resiste.

Sempre defendi, pelo contrário, a recuperação do que temos. Com critério, sobriedade e se possível com a prata da casa. Por isso apoiei sem reservas e com particular entusiasmo, ainda no papel, a recuperação do Largo do Carmo em Junho de 2008 e que se veio a revelar uma aposta acertada. Não se inventou, preservou-se com critério e ordem.

Em matérias da Cidade sou um conservador. Prefiro a intervenção cuidada à revolução, por isso, juntamente com os Vereadores do PSD da altura, me opus vivamente à primeira intervenção no Toural e na Alameda que sempre me pareceu uma intervenção radical, muito parecida com aquilo que Braga gosta de fazer. E, sinceramente, acho que ao longo das últimas décadas, ao nível urbano, Guimarães é um bom exemplo e Braga é um mau exemplo; falta a Guimarães, por comparação com Braga saber competir com a barata e feia construção da cidade vizinha através de uma recuperação apoiada do centro da cidade, com estacionamento entre quarteirões que sirvam directamente as habitações. A SRU poderia também ter feito isso.

No entanto as coisas mudaram, não sei exactamente porquê, e o PS optou por um novo projecto, menos ruidoso que o primeiro e que veio de encontro àquelas que eram as minhas preocupações.

O projecto de 2009 é, em minha opinião, um projecto sensato que procura dignificar e vivificar espaços importantes e pouco visíveis ou usados como o Jardim da Alameda, a zona da Igreja de S.Francisco, ou mesmo o aproveitamento turístico da Muralha Aqui Nasceu Portugal, arrumando de forma simples e funcional os TUG. E quando se discute tão apaixonadamente o estacionamento no Toural tenho sempre a sensação de um déja vu com décadas. O apetecível estacionamento na Mumadona acabou por cair nas costas da Câmara, apesar dos inúmeros “interessados”, e o parque de estacionamento no Estádio não serve ninguém apesar do investimento, são disso exemplos. E que tal optarmos por coisas simples e óbvias? O Mercado, neste contexto, sempre me pareceu uma excelente solução: maior, mais barata e flexível.

A sensatez foi o que permitiu preservar o Centro Histórico que hoje temos. Devemos mantê-la.

O que me preocupa realmente é como vamos recuperar a habitação no centro da cidade, como vamos motivar os particulares a fazê-lo, como vamos chamar gente para nele habitar? O resto parece-me pouco.

Publicado n’ O Comércio de Guimarães

Comentários

Nuno Leal disse…
Quase de acordo, menos no essencial do teu artigo: acho que o projecto de 2007 é mais vantajoso, a revolução sobre a evolução. E exactamente pelos motivos que apresentas sobre Braga. Porque se urbanamente Braga não é grande exemplo de preservação, é um excelente exemplo de mobilidade e comércio local. O centro de Braga fervilha de movimento, tem lojas aos montes abertas, não há carros e há estacionamento em quantidade (Campo da Vinha, Avenida, Loja do Cidadão) entre outros parques, tudo ligado a túneis que permitem fluidez de transito e libertar a superfície.
Acho que só ficava a ganhar a zona do Toural e Alameda com alguns túneis e muito estacionamento.
Rui Vítor Costa disse…
Braga tem, desde que me lembro, um comércio mais forte que Guimarães. O que tem a ver fundamentalmente com a densidade populacional no seu centro. Já antes do estacionamento era assim.

O que me parece é que Guimarães tem de seguir o rumo que lhe valeu a classificação de PH e não de seguir a "via do empreiteiro", ainda para mais no quadro económico que actualmente vivemos. E Guimarães, desde o Sr. António Xavier, tem dado um feliz exemplo.

Fechar o Toural durante dois anos é um risco enorme, e acho que nos deveríamos concentrar noutros bons exemplo como o Porto e a sua SRU que, dentro de 5 anos, dará os seus resultados. Já se vêem alguns. O estacionamento que me preocupa é o dos residentes ... e isso faz-se numa lógica de quarteirão.

Abraço.

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