Dietas & gorjetas (I)

 

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A decisão de fazer uma dieta alimentar é dos atos mais repetidos – e provavelmente mais falhados – no mundo ocidental. É provável que seja mesmo superior às enésimas decisões convictas e irredutíveis de deixar de fumar.

A “literatura” sobre dietas existente nas prateleiras das livrarias deve suplantar em número e em variedade qualquer literatura europeia por uma larga diferença. Os livros e sites de “como perder peso?” existem sobre tudo, e sobretudo a prometer soluções para aquilo que a cabeça não consegue ou não quer perceber.

Qualquer pessoa medianamente informada percebe os perigos do excesso de peso para a saúde e para o ego. Mas não há volta a dar-lhe. Culpa-se o metabolismo ou a genética (e algumas vezes com razão) mas a verdade é que não é nada fácil resistir ao prazer de comer e à genial descontração de uma boa mesa partilhada com gente de quem se gosta.

Eu próprio já comecei dietas várias vezes. Nunca, é certo, com aquela convicção de que ia ficar um ginasta soviético mas, no mínimo, com a esperança de me distanciar de um halterofilista turco. Não perdi muito peso, ganhei contudo com essas tentativas algumas regras que hoje tento conservar e que me têm permitido encravar a balança num mesmo peso, há já bastantes anos. Excessivo é certo mas encravado como o meu colesterol em números certos e imutáveis.

E apesar da minha boa vontade inicial em perder peso trago no meu currículo a vergonha de ter sido “despedido” pela nutricionista que me acompanhou durante mais de um ano. Lamentável e inusual: médico despede doente por incompetência deste! Para ser doente é preciso ter alguma qualidade e eu não a tinha. Cada consulta era antecedida por uma semana verdadeiramente diabólica. Não que eu deixasse de comer nessa semana – não valia a pena, era demasiadamente curto – mas eu tinha que pensar numa data de coisas para justificar o falhanço. E a simpatia da médica (que eu cumprimento veneradamente caso me esteja a ler) permitia que eu enchesse o tempo da consulta com bagatelas retóricas. Quanto menos tempo eu lhe desse para falar menos apanharia. Enfim, mais uma nódoa no meu currículo.

No entanto não faltam “soluções”. Desde pastilhas que fazem perder imensos quilos em poucos dias até máquinas que nos tiram a barriga enquanto vemos televisão, a oferta é incessante. Vai mudando com a perceção de que as coisas não resultam e transformam-se em produtos à base de plantas que ajudam a perder peso sem sofrimentos nem privações dizem os anúncios. Como é possível não sofrer para perder peso? Só se a mistela verde nos deixar inconscientes o tempo suficiente para emagrecermos. Não dá para acreditar em glutões biológicos. Dietas à base de chás, verdes, vermelhos e amarelos, produtos para regular o trânsito intestinal como se a comida fossem veículos em Carachi ou Nova Deli que a Brigada de Trânsito iria, miraculosamente, ordenar. Há de tudo, até Dietas que são parlamentos com assembleias deliberativas como na Alemanha ou no Japão. Provavelmente mais fáceis de engolir que as primeiras.

 

 

Publicado in Comércio de Guimarães

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