Previsivelmente irracional - I

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Dan Ariely é um investigador israelita na área do comportamento, pertencente aos quadros do MIT (Massachusetts Institute of Technology), prestigiada Universidade norte-americana situada na cidade de Boston. Este cientista desenvolveu recentemente uma curiosa teoria que, basicamente, diz que o homem apesar de ser um ser (inquestionavelmente) racional adopta frequentemente, e de forma absolutamente previsível, comportamentos francamente irracionais desde que tenha o engodo certo.

E a política nacional é, sem dúvida nenhuma, um fértil campo de exemplos para estes comportamentos.

Vejamos então os últimos desenvolvimentos da Face Oculta (cada vez mais escancarada!) na perna do polvo que tem a ver com o controlo da comunicação social.

O que é que se percebe das escutas? Basicamente que um conjunto de homens da confiança do Primeiro-Ministro (PM) se envolveram em manobras para calar jornalistas e meios de comunicação não alinhados ao Governo, envolvendo para isso meios do Estado.

O que é que se esperaria do PM? Provavelmente que o PM dissesse que aqueles senhores que assim falaram agiram mal, descarada e abusivamente, e que continuaria a governar o País de acordo com a vontade expressa nas urnas. Ou então, por outro lado, se fosse o caso, reconheceu que agiu mal e que por isso se demitia. Em qualquer dos casos a atitude tomada seria racional, consequente e responsável.

O que é que aconteceu? O PM veio dizer que a revelação das escutas é ilegal e por isso nada comenta e que tudo não passa de “mais uma” calúnia. Disse que o conteúdo das escutas era falso? Não, não disse. Reduziu o caso, uma vez mais, a uma perseguição pessoal.

O que se esperaria dos altos magistrados da nação? Que dissessem que as escutas eram falsas e os autores de tal falsidade iriam ser processados. Ou então, que o Procurador-Geral da República (PGR) cumprisse uma “vontade” que deixou há uns tempos ao semanário Expresso e divulgasse publicamente as escutas e os seus despachos. Isso seria racional e transparente e permitir-nos-ia aferir da bondade das suas decisões.

O que fez o PGR? Disse que não encontrou nas escutas nenhum “atentado ao Estado de Direito”, que as escutas sem outros meios de prova não são suficientes e que discordava das conclusões que o juiz de Aveiro e o delegado do Ministério Público escreveram. E um caso de tanta gravidade não implicaria que todos nós conhecêssemos as razões dessa discordância? De forma racional e transparente?

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