Os animais “meus amigos”

SprBS-Dog

Sinto sempre um arrepio na espinha quando alguém profere a conhecida frase “quem não gosta de animais não pode gostar de pessoas”. Sinto-me sempre atingido e culpado, como se quem a profere soubesse perscrutar no fundo de mim a enorme distância que de pequeno sempre senti com os animais.

Não é que lhes faça mal – penso que além de moscas ou formigas nunca matei nenhum animal – mas a generalidade dos animais são para mim um incómodo. À exceção dos peixes de aquário de quem sempre gostei, mas que acabaram inevitavelmente por morrer por falta de cuidado meu – e eu a dizer que não matei…- os animais acabam por exigir de mim uma pachorra que para eles não tenho e que guardei para assuntos mais sérios.

Até poderia gostar mais de animais, nomeadamente cães, se eles se portassem como 1% dos cães que conheço. Sossegados e dóceis, sentados ao lado do dono como cães de porcelana. Mas não, o cão é um bicho demasiado vivo, ou late, ou morde, ou dá cabo do tapete. E essa falta de neutralidade incomoda-me. E quando o bicho é mais feroz, como aqueles que obrigam os donos a fazerem ski terrestre pela trela, sente sempre que eu sou uma vítima em potência. E rosnam-me apesar da pose que julgo fazer mas que não os engana. É a brincar diz o dono enquanto a besta me mostra os dentes. É a brincar é, penso eu enquanto vejo a trela a esticar. São todos uns brincalhões mesmo quando espalham as fezes pelos passeios e jardins dos outros. Eu é que não os entendo.

Pudera eu ter uma relação mais national geographic com a bicharada, mas não dá. Aos sete ou oito anos tive de fugir de uma vaca. Vejam lá: uma vaca daquelas que sorriu ao Presidente da República. Como posso eu confiar afinal nos ditados e dogmas do mundo animal?

Só longe. E mesmo assim à cautela.

 

 

in O Comércio de Guimarães 25.01.12

Comentários

Mensagens populares