O meu último dia do pai
Já há catorze anos que de forma regular participo no dia do pai. Responsabilidades próprias de quem tem filhos a conta-gotas e participa nas actividades que, de forma sempre cuidada e excepcional, os infantários levam a cabo neste dia. Este foi o último ano em que tenho filhos nestas idades. Uma idade em que para eles o pai (ou na mãe) são o centro de todo o universo plausível. O tempo chegará em que seremos adereços do implausível. Mas isso é outra conversa.
Confesso, com inevitável mágoa, que num ano ou noutro não estive à altura da festa. Questão de prioridades que hoje me parecem pequenas e estúpidas. Este ano fixei todos os momentos com a força de um abraço e deixei que o tempo fosse tempo fora de mim. Reuni como um jogador de poker todas a minhas fichas para a última jogada. Não com o intuito de ganhar o jogo, mas simplesmente com o propósito de o jogar.
Comoveu-me o olhar dos meninos à espera do pai. Isso sempre foi o que me desagradou francamente nestas festas. E aqueles pais que não podem vir? Como pode um miúdo, no íntimo, compreender e aceitar essa realidade? Não seria melhor fazer dum sábado o dia do pai?
Enfim, comovo-me com demasiada facilidade, é certo. Mas julgo isso como um bom sinal. Um sinal que o cinismo que, inevitavelmente, cresce com a idade não nos torna completamente graníticos e fúteis.
O amor pelos filhos é o mais incompreensível dos amores possíveis. Não é construído como todos os outros. Surge sem aviso e cobre-nos da fragilidade intensa das estrelas, que mesmo não existindo nos iluminam a noite.
Publicado in O Comércio de Guimarães
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