O meu último dia do pai

Foto de Gelayred (Father and daughter bonding) in Flickr

Já há catorze anos que de forma regular participo no dia do pai. Responsabilidades próprias de quem tem filhos a conta-gotas e participa nas actividades que, de forma sempre cuidada e excepcional, os infantários levam a cabo neste dia. Este foi o último ano em que tenho filhos nestas idades. Uma idade em que para eles o pai (ou na mãe) são o centro de todo o universo plausível. O tempo chegará em que seremos adereços do implausível. Mas isso é outra conversa.

Confesso, com inevitável mágoa, que num ano ou noutro não estive à altura da festa. Questão de prioridades que hoje me parecem pequenas e estúpidas. Este ano fixei todos os momentos com a força de um abraço e deixei que o tempo fosse tempo fora de mim. Reuni como um jogador de poker todas a minhas fichas para a última jogada. Não com o intuito de ganhar o jogo, mas simplesmente com o propósito de o jogar.

Comoveu-me o olhar dos meninos à espera do pai. Isso sempre foi o que me desagradou francamente nestas festas. E aqueles pais que não podem vir? Como pode um miúdo, no íntimo, compreender e aceitar essa realidade? Não seria melhor fazer dum sábado o dia do pai?

Enfim, comovo-me com demasiada facilidade, é certo. Mas julgo isso como um bom sinal. Um sinal que o cinismo que, inevitavelmente, cresce com a idade não nos torna completamente graníticos e fúteis.

O amor pelos filhos é o mais incompreensível dos amores possíveis. Não é construído como todos os outros. Surge sem aviso e cobre-nos da fragilidade intensa das estrelas, que mesmo não existindo nos iluminam a noite.

Publicado in O Comércio de Guimarães

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