Imprescindível

helena matos

Helena Matos é, para mim uma voz imprescindível na comunicação social portuguesa. Esta semana, mais uma vez no Público, um notável artigo:

“(…) o capitalismo, esse eterno reciclador, reservou lugares de destaque e de poder a estes contestatários. Mas o tempo está a pregar uma enorme partida a essa geração, que, enquanto teve e tem um discurso muito severo sobre quem a precedeu, se habituou a ser extraordinariamente indulgente consigo mesma. O que agora os atormenta não é terem chamado libertadores a ditadores, confundido filósofos com chefes de seitas ou, em alguns casos, terem atravessado a ténue linha que então separava a contestação do terrorismo.
O que o tempo agora lhes atira à cara através de interpostas crianças é a memória desses anos em que eles gritavam liberdade, façam amor e não a guerra, eram jovens e belos, em que acreditavam que iam ficar para a História, quiçá ser o seu fim e não concebiam sequer que outras gerações os julgariam. Com as suas enormes diferenças, o drama de Daniel Cohn-Bendit, Frédéric Mitterrand e Roman Polanski é que tudo aquilo que agora lhes é atirado à cara foi senão aprovado pelo menos razoavelmente tolerado em determinados períodos. Basta pesquisar nos arquivos dos jornais, sobretudo dos franceses, para encontrarmos referências aos abaixo-assinados subscritos pelos intelectuais nos anos 70 pedindo a libertação de pedófilos que então não eram vistos enquanto tal, mas sim como contestatários da repressão burguesa da sexualidade infantil.
Contudo, o que impressiona em 2009 não é tanto o que se diz, fez ou escreveu há 30 anos, mas o constatar-se a disponibilidade para novamente, em nome da libertação dos adultos, tomarmos sem grande reflexão decisões que não sabemos como podem interferir com as crianças por elas afectadas. O caso presente da adopção por casais homossexuais é um exemplo disso mesmo. Que dois homens ou duas mulheres queiram ver reconhecida a sua união como
casamento é uma questão entre adultos. Bem diferente é uma sociedade assumir que no futuro existirão crianças que serão identificadas como tendo dois pais ou duas mães. Como irão reagir a isso? (…)”

É óptimo ter alguém tão “politicamente incorrecto”,  tão inteligente e lúcida, como esta extraordinária jornalista.

Comentários

Rui Silva disse…
Desculpa lá, Rui, mas este excerto tem muito pouco de inteligência e sobretudo de lucidez.

É lucidez comparar a pedofilia com a adopção de crianças por casais homossexuais?
Adoptar uma criança é crime?
Ser homossexual é crime?
Um homossexual adoptar uma criança é crime?

Elucida-me, por favor.
Rui Vítor Costa disse…
Conhecendo-te como te conheço é fácil de adivinhar que textos como este te irritam. Ao contrário do que acontece comigo. És um indivíduo generoso, sempre disponível para dar uma palavra em defesa dos "transexuais do hemisfério sul que tenham apenas uma perna" ... e bem.

O que retive fortemente do texto - e que vai de encontro ao que penso- é que em matéria de "costumes" devemos ser mais conservadores. É mais seguro.
A pedofilia que é demonizada hoje(e bem!) foi, ontem, tolerada sob capas diversas como a "emancipação sexual das crianças". O Lolita do Kubrick fala dessa perversidade infantil. Durante muito tempo os poucos casos que nos vinham bater na cara escondia a odiosa violência que está por trás da pedofilia e que casos como o da "Casa Pia" nos vieram, até ao enjoo, mostrar.

Portanto sejamos mais cautelosos que "modernos" em matérias de adopção p.ex..

Esta é a minha coincidente perspectiva. Nada mais.
Rui Silva disse…
Irita-me e não é por generosidade para com os coitadinhos, acredita. É por misturar alhos com bugalhos e isso não é coerente, a não ser que haja uma certa perversidade na origem do texto.

Não faz sentido comparar um acto sexual realizado com uma criança, com o comportamento sexual dos pais naturais ou adoptivos de uma criança. Sejam estes homossexuais, sado-masoquistas, swingers ou qualquer outra coisa.

Certamente se arranjarão outras justificações e motivações para usar da cautela no que respeita à adopção, sem necessidade de tirar monstros de debaixo da cama.

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