A propósito da irrelevância

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Por muito que eu “perdoe” a Saramago a polémica bíblica. A semana que passou foram publicados alguns artigos interessantes, como o de Richard Zimler no Público P2 (27.10.09).

Alguns excertos:

“O Antigo Testamento é formado em grande parte por uma compilação de histórias, muito à semelhança de um romance. E o seu tema principal é a difícil e por vezes tumultuosa relação entre Deus e Israel, entre o criador transcendente de um universo e o seu povo escolhido. É uma história de sobrevivência, de como os israelitas usaram de todos os meios à sua disposição – incluindo a guerra – para defender aquilo que consideravam a sua particular aliança com o Senhor.
Como qualquer romance ou outra forma de narrativa que intente descrever todos os cambiantes da conduta humana, dela fazem parte tanto a opressão intolerável, os  crimes de guerra e os assassinatos, como também o amor, a dedicação
e o heroísmo. Trata de seres humanos tal como eles são, e não como eles deveriam ser. Pegar no Antigo Testamento para criticar a brutalidade dos hebreus ou de outros povos da antiguidade é o mesmo que criticar Dostoievsky por escrever sobre um assassinato premeditado em Crime e Castigo ou criticar Anne Frank por descrever como a crueldade nazi afectou a sua família.(…)

O Antigo Testamento pode ter como referência um acontecimento histórico – a libertação do povo hebraico –, mas a linguagem utilizada é poética e simbólica.(…)

Tomar à letra estas histórias é simplesmente não entender o
Antigo Testamento e ignorar por completo dois mil anos da tradição poética ocidental.(…)”

As críticas de Saramago são unicamente banalidades superficiais, que revelam uma profunda ignorância
da filosofi a e da religião ocidentais e uma total incompreensão da linguagem poética e narrativa de
desde há mais de três mil anos. Só quem ignora tal herança,
jornalistas e responsáveis religiosos incluídos, poderia tornar o patético desabafo do romancista numa tal polémica.”

Foto:EPA

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