Anticlericalismo

vpv

Do artigo de opinião “O papa e a pedofilia” por VPV, ontem no Público.

 

 

 

“(...) Se a Igreja não muda, o anticlericalismo também não.
De Lutero ao “Iluminismo” e da grande revolução francesa aos pequenos jacobinos de Portugal e Espanha, que há pouco menos de cem anos queriam ainda, como Voltaire, “esmagar a Infame”, a Igreja é invariavelmente acusada pela sua presuntiva riqueza e pelo comportamento sexual do clero. (…) Claro que  Bento XVI mandou investigar o caso, removeu bispos, suspendeu padres, castigou culpados. Claro que nem ele, nem a Igreja são responsáveis pelas declarações, de facto ofensivas, de algumas
figuras menores do Vaticano ou da Conferência Episcopal Portuguesa. Mas, como de costume, a lógica não abala o anticlericalismo (…)

Até porque provavelmente percebe que, por detrás do escândalo do encobrimento, está o ódio ao Papa “reaccionário”; ao Papa que se recusou a transigir com a cultura dominante em matérias como o divórcio, o aborto, a homossexualidade, o celibato do clero e a ordenação de mulheres. Não ocorre ao anticlericalismo que a integridade da Igreja pode exigir essa rigidez, como já mostrou a rápida ruína do anglicanismo. Ratzinger compreende que, sem o apoio do Estado ou influência sobre ele, a Igreja depende essencialmente da convicção e da força com que conseguir conservar a sua doutrina. Qualquer fraqueza a transformará numa instituição vulgar, à mercê da opinião pública e das mudanças do mundo. Isso Bento XVI não quer. Como não quer encobrir a pedofilia.”

Comentários

Rui Silva disse…
"Ratzinger compreende que, sem o apoio do Estado ou influência sobre ele, a Igreja depende essencialmente da convicção e da força com que conseguir conservar a sua doutrina. Qualquer fraqueza a transformará numa instituição vulgar, à mercê da opinião pública e das mudanças do mundo. Isso Bento XVI não quer. Como não quer encobrir a pedofilia."

Absolutamente no ponto, este excerto da crónica. Também não acredito que Bento XVI queria encobrir a pedofilia. E ainda bem. Mas não se vire demasiado o bico ao prego... a culpa da existência de abusos sexuais e pedofilia não é exclusiva da Igreja, mas os abusos feitos por padres inseridos na hierarquia da Igreja não é, certamente, responsabilidade dos anticlericais. ("Se não queres ver um pirómano em acção, não lhe dês um isqueiro", Rui Silva 2010)

Só faltou esclarecer um detalhe. Se o VPV acha que Bento XVI quer liderar uma Igreja de fieis convictos ou continuar a permitir um rebanho mais temente do que propriamente crente em Deus. É que é isso que pode determinar a verdadeira força da instituição. Com o avanço generalizado do conhecimento, o único caminho que resta à Igreja é enterrar bem fundo os fantasmas e dogmas inventados em séculos de obscurantismo (que o Islão infelizmente ainda vive) e concentrar-se no que realmente interessa no Cristianismo: a mensagem e a esperança que Jesus Cristo trouxe aos seus seguidores.
Rui Vítor Costa disse…
Não sinto que haja o "temor" a que fazes referência. Os tempos mudaram. O conservadorismo da igreja é, no entanto, uma real necessidade face à importância, dimensão e história da instituição pois, como diz VPV, a Igreja exige " essa rigidez, como já mostrou a rápida ruína do anglicanismo".
Não confundas quem crê em Deus com quem crê na Democracia, por exemplo. As dimensões são diferentes. O grau de profundidade intelectual, de convicção, está, e estará sempre no caso das religiões, enformado por algo tão impalpável como a fé.
Medir tudo pela bitola da Razão é, do meu ponto de vista, um erro, apesar de ao longo dos séculos ter havido sempre, crentes ou adversários, que tentou adequar a medida da razão à fé.
Rui Silva disse…
Não confundo. Como espero que não confundas o acreditar em Deus com o acreditar na Igreja (qualquer delas) como seu legítimo representante. O impalpável da fé não ouso, sequer, pôr em causa e não acredito que o conhecimento vá, algum dia, o fazer. Acredito até que poderá ajudar a compreender a fé, não a colocá-la em dúvida.
Rui Vítor Costa disse…
A Igreja é a consequência do nosso horror ao caos, mesmo em domínios emotivos como a Fé e, neste particular caso, do Cristianismo.
Ela é a "nossa" norma e padece das fragilidades de quem, a cada momento, a constrói. Curioso é que a actual "crise" caia precisamente em cima do mais intelectual dos Papas. E ela cai não porque Bento XVI seja um "homem de normas" mas porque, infelizmente, ele não tem a imagem de glamour em que nos viciaram. O que aliado ao seu conservadorismo, mesmo que sustentado pela razão, o torna "não vendável" nos padrões deste tempo.

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