A Síndrome de Estocolmo

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Nunca fui um pessimista. Não sei se por uma particular ventura ou se por força de uma qualquer racionalidade defensiva, não sei. E nunca me custou tanto, como hoje, face à situação do país não ser efectivamente pessimista.

A situação a que chegamos tem efectivamente muitos culpados e a situação internacional pôs a nu as nossas debilidades enquanto país.

Podemos não saber muito de política ou de economia mas, penso, deveremos saber analisar a situação recente.

Nunca em Portugal, como em 2009, houve uma situação tão clara de diferentes líderes e perspectivas nos principais partidos portugueses. De um lado Sócrates, do outro Ferreira Leite. De um lado um homem sem escrúpulos, capaz de subir os salários da função pública em ano eleitoral apesar da situação do país, imerso numa máquina de controlo e propaganda nunca vistas, até então, em Portugal. Do outro uma mulher espartana que baseou a sua campanha na necessidade absoluta de se falar verdade e de se agir de acordo com as nossas possibilidades enquanto era tempo. Não tenho qualquer dúvida que não estaríamos na actual situação se Manuela Ferreira Leite tivesse sido Primeira-Ministra. No entanto o povo português entendeu que se deveria continuar a privilegiar a ilusão. É a democracia.

Nos meses que se seguiram à tomada de posse o Governo empossado não governou. Andou a “correr atrás do prejuízo” sempre com a propaganda atrelada e os meios de comunicação controlados, correndo, por exemplo, com os jornalistas incómodos e cortando crédito bancário aos grupos empresariais que não alinhavam na ladainha governamental, usando por isso os boys colocados despudoradamente na máquina do Estado e fora dela. Perante a pressão da Europa foram sendo aprovados, com a abstenção do PSD, o PEC I, o PEC II e o PEC III. Passado um ano de apresentar o primeiro PEC, apresentou o quarto e o PSD chumbou-o. E, pasme-se, a culpa da crise é afinal do PSD que não apadrinhou mais uma revisão de contas de quem, como está bom de ver, nunca as soube fazer.

O que espanta em Sócrates não é a sua proverbial incompetência é, sobretudo, a sua falta de vergonha em não assumir a sua responsabilidade no caos financeiro em que o país se tornou e no, cada vez mais inevitável, caos social em que o país está prestes a cair.

Podemos gostar mais de uns ou de outros, mas a verdade é que o país contou em democracia com gente que soube parar quando já não conseguia dar conta do recado. Sócrates não. Pois o seu propósito não é o país, mas ele, a sua imagem, a sua tresloucada vaidade.

O pior que nos está a acontecer hoje é o de sermos dominados pelo medo. E tal como na famosa Síndrome de Estocolmo, em que a vítima começa a ter um distúrbio psicológico que a leva a desenvolver simpatia pelo sequestrador, há em Portugal, mesmo fora do séquito partidário, quem ainda veja em Sócrates qualidades para ele tirar cada um de nós do poço para o qual voluntariamente nos empurrou. Cabe a cada um de nós saber acordar e ajudar os outros a acordarem deste pesadelo colectivo que tem sido a governação de Sócrates.

A ignorância não acarreta culpa, mas baixar os braços e deixar que o actual estado de coisas se perpetue é culposo.

E deixemos-nos de ilusões: a Europa não nos vai salvar. Temos que er nós mesmos a fazê-lo.

O segredo somos nós. Cada um de nós enquanto parte importante de um povo. Participando na nossa comunidade e dando o nosso melhor no trabalho, no nosso bairro, na participação cívica e solidária que possamos ter. E não deixando, sobretudo, que a mentira fique impune e se continue a espalhar como um vírus.

Publicado_in_O Comércio de Guimarães

Comentários

Kruzes Kanhoto disse…
Essa dos salários da função pública ter subido 2,9% constitui um argumento fabuloso. Curiosamente ninguém diz que os descontos aumentaram 1,5%...Só nesse ano, porque daí para cá nem é bom falar!

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