Pizzaria literária


Na actual fase da minha vida que me obriga a ler, por questões profissionais, umas longas horas diárias, chegar à noite e ler novamente não é nada de particularmente excitante. Nem pela inércia de um hábito.

Para além do vício dos jornais (só já não suporto, há muito, as revistas de fim-de-semana!), ou de uma qualquer publicação “com figuras”, a imagem de um livro afigura-se-me tão pouco prazenteira como uma pizza para um funcionário de uma pizzaria, quando este chega a casa, à noite.

Peguei, no entanto, no sucesso literário de Paolo Giordano (A solidão dos números primos), contrariando o meu espectável snobismo. O facto de ele ser um físico amenizou, certamente, a inevitabilidade das minhas atitudes perante um livro que se lê, sem dificuldade, numa tarde de Agosto e que me tem rendido alguns minutos diários ao longo de vários dias.

Estou agora a meio da ponte. Não no meio da ponte entre o gostar ou o detestar (o livro não mexe tanto comigo assim), mas no meio do livro mesmo. Todas as noites os extraordinários olhos da capa miram-me com a graça de outros olhos que nas feiras de outros tempos me diziam, então amigo, vai um tirinho?

E ficava eu então entregue à minha sufocante pontaria.

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