Artigo cem

sant

Cheguei ao artigo cem na colaboração com O Comércio de Guimarães…

Valha-me Deus.

 

 

“ Ter opiniões é estar vendido a si mesmo. Não ter opiniões é existir. Ter todas as opiniões é ser poeta.”

Bernardo Soares. Livro do desassossego.

É este o meu centésimo artigo nesta coluna. Parece que foi ontem que aqui comecei a escrever mas já passaram oito anos. Que poderá dizer mais este número que o inexorável tique-taque do tempo? O tempo físico na barriga do crocodilo do Peter Pan. 100 espinhas, 100 dó ou piedade que o travem. É assim o tempo.

O que me tentou inicialmente para a escrita desta crónica foi passar em revista, como se diz, o que escrevi. Mas, felizmente, cedo me desenganei da tarefa narcísica de vasculhar noventa e nove artigos. A auto-contemplação é um inútil exercício, é pueril pois não acrescenta nada, não adianta nada, é 100 sentido. E penso que o tempo dá e tira com acerto. O acerto dele é claro, o acerto do inevitável que aconteceu e por isso é inevitável e certo à sua maneira. Se alguém reparou no que escrevi ou se, por outro lado, ninguém guardou memória ou opinião sobre as coisas que disse, as coisas que pensei, ou as coisas que não pensando disse, é tudo apenas tempo. Tão simples, tão cruel e belo quanto isso.

Como escapei a essa primeira tentação, caí noutra. Tentou-me ainda o exercício de nada dizer, mesmo escrevendo. O que aliás, até esta exacta palavra, penso estar a fazer. Seria uma espécie de gozo a mim próprio, uma sabotagem voluntária a quem opina e se acha no propósito de opinar. Mas, infelizmente, não tenho a capacidade dos articulistas que perante a página vazia a enchem justapondo as palavras de forma elegante, de maneira a que agrade a quem lê, mesmo que no fim a sensação da leitura se assemelhe à de um folheto de medicamento na parte da composição química do fármaco utilizado.

(…)

 

 

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