Helena Matos hoje no Público


Queria fazer cortes neste texto de Helena Matos. Mas não o consegui.

Livro de estilo para referir Israel

08.01.2009, Helena Matos

Os discursos do médico norueguês, do padre católico e da activista da ONG permitem que o Hamas não preste declarações

No dia em que escrevo, quarta-feira, confirma-se que mais uma vez uma cadeia de televisão europeia, a France 2, transmitiu imagens falsas numa reportagem que dedicou ao ataque israelita a Gaza. Crianças mortas e uma casa destruída ilustravam os efeitos dramáticos entre os civis palestinianos dos bombardeamentos efectuados pelo exército de Israel.
Poucas horas após a emissão da reportagem concluía-se que destas imagens apenas os cadáveres e o prédio destruído não foram ficcionados. Aquelas pessoas morreram, mas não morreram a 5 de Janeiro de 2009, como afirma o jornalista da France 2, mas sim a 23 de Setembro de 2005. Também não morreram na sequência de um ataque israelita mas sim no resultado da explosão acidental de um camião que transportava rockets do Hamas dentro do campo de refugiados de Jabalya. Defende-se a France 2 dizendo que foi enganada pela propaganda palestiniana. Nestas coisas da comunicação, os palestinianos têm de facto as costas demasiado largas, pois aquilo a que temos assistido nos últimos anos é à participação voluntária e entusiástica de vários órgãos de comunicação ocidental na diabolização de Israel, através da divulgação de imagens e notícias sem qualquer tipo de confirmação das fontes ou até mesmo com a promoção de imagens e notícias falsas. Foi assim com o relato da morte de Muhammad al-Durrah, o menino que, em Setembro de 2000, segundo uma reportagem da mesma France 2, teria sido baleado por soldados israelitas junto ao seu pai, acabando os dois assassinados. A imagem da criança tentando proteger-se sob o cadáver do pai emocionou o mundo e legitimou a segunda intifada. Infelizmente, os mesmos jornalistas que tão rapidamente espalharam esta imagem não se deram ao trabalho de divulgar as investigações que provavam a sua manipulação. Maior silêncio ainda caiu sobre os responsáveis pela morte da família de Huda Ghaliya, a menina que o mundo inteiro viu chorando sobre os cadáveres de toda a sua família, numa praia de Gaza, em 2006. Os jornais ocidentais, com a mesma diligência com que a promoveram o novo ícone palestiniano, também o esqueceram quando se soube que a sua família não morrera vítima de um ataque israelita mas sim de armas palestinianas. Os exemplos desta fábrica mediática de mártires para ocidente consumir levam-nos invariavelmente à constatação de que existe no ocidente uma espécie de "insurgentes de sofá". Tal como os treinadores de bancada raramente praticam qualquer desporto, também estes "insurgentes de sofá" jamais pegariam numa arma ou fariam um atentado. E não o fariam porque moralmente não seriam capazes e também porque este mundo ocidental do qual dizem tanto mal lhes tem proporcionado invejáveis padrões de vida. Israel torna-se assim no "lugar ideológico" que lhes permite acharem-se ideologicamente coerentes enquanto usufruem o que de melhor a democracia a que dantes chamavam burguesa tem para oferecer. Claro que há algumas décadas outros povos acompanhavam os palestinianos como objecto da sua solidariedade. Eram então os vietnamitas, os cambodjanos, o então designado "povo mártir da Coreia do Sul", os angolanos, os moçambicanos, os rodesianos... enfim todos aqueles povos cujos problemas pudessem ser de alguma forma imputáveis a países que alinhassem no chamado bloco ocidental. No preciso dia em que a culpa deixou de poder ser assacada a portugueses, norte-americanos, ingleses... esses povos deixaram de gerar piedade e desapareceram os activistas. Os massacres no Ruanda, a fome no Zimbabwe, as epidemias no Congo e a corrupção em Angola não só deixaram o paradigma das notícias que causam indignação como passaram a ser apresentados sob as vestes da fatalidade histórica. De igual modo, quando os palestinianos se matam entre si, por exemplo quando o Hamas chacinou os membros da Fatah, o facto é ignorado. Se Israel - ou seja, o país do nosso mundo - não é passível de ser responsabilizado então mal existem notícias e muito menos indignação. Donde também nunca ouvirmos falar da situação dos palestinianos no Líbano e no Egipto ou das medidas tomadas pela Jordânia para controlar os movimentos que os representam.

Comentários

Unknown disse…
Está muito bem escrito mas... o Hamas ganhou as ultimas eleições...
Rui Vítor Costa disse…
O Hitler também as ganhou, no seu tempo, na Alemanha. E daí?

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