Mezinhas para 2009 (I)


Não me recordo de um ano que tenha nascido, como este ano de 2009, com tão baixas expectativas para todos nós. A perspectiva não é a de o viver, mas simplesmente a de lhe sobreviver.

Naturalmente que o nosso optimismo está no vermelho como o combustível dos nossos carros. E quando toca a pessimismo nós, os portugueses, somos óptimos. Poucos como nós são capazes de carregar tanto desamor, provavelmente porque o espaço do amor replica-se simetricamente no espaço do não amor.

Ora, se entrarmos em 2009 de cabeça baixa ir-nos-emos afundar ainda mais, até submergirmos no solo que nos deveria sustentar. Por isso, alguns modestos conselhos para um 2009 mais leve:

Aprenda a cozinhar. Com a “literatura culinária” que hoje existe é relativamente fácil, mesmo para os mais empedernidos dos não cozinheiros, esmagadoramente do sexo masculino, fazer um brilharete na cozinha nas noites de sexta ou sábado, poupando dinheiro e trazendo algum requinte às refeições. Acreditem aqueles que nunca cozinharam que as horas gastas a confeccionar uma refeição são do mais libertador que existe. Durante o par de horas em que se cozinha não se pensa em nada a não ser no paladar e nas quantidades que devemos gerir, e isso limpa a alma como um jacuzzi ou uma hora de ioga sem termos de pagar por isso. Dois conselhos finais: aceitem o fracasso das primeiras refeições sem distribuírem tabefes pela pequenada e (para os homens) não façam doces, engordam muito. Acreditem que não fica bem dizer à namorada, ou à mulher, que vão confeccionar um delicioso tiramisu ... incomoda. Quanto ao resto, força aí.

Visite a sua própria terra como se estivesse no estrangeiro. Quando saímos para “fora” enchemo-nos de mapas e guias e sorvemos a explicação dos monumentos como se fosse o nosso último dia. Porque não o fazemos na nossa própria terra? Nem que seja num sábado por mês vão aos postos de turismo e peçam os prospectos que se dão aos estrangeiros e sigam as recomendações (há-os em português), vão ver que há coisas que desconhecemos e que estão mesmo debaixo do nosso nariz. Ir a Briteiros visitar a Citânia ou a Casa de Sarmento, ir aos nossos museus e às nossas igrejas e “perder tempo” a reparar nas coisas é um exercício simples e barato que nos vai certamente tornar melhores e mais cultos. E se levarmos o exercício muito a sério vai parecer que viajámos para longe e vai ser bom regressar.


Fotos: Óbidos (mj_almeida) e Portinho da Arrábida (moranguita) in Fickr

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