Artigo de Jaime Nogueira Pinto


O Jornal i, já aqui o referi, é um diário que me enche as medidas. Pela diferença, pela perspicácia, pela inteligência e inconformismo. Gostei particularmente do artigo de hoje de JNP sobre D. Nun'Álvares Pereira ou será S. Nuno?

Andei estes últimos meses à volta da figura do Condestável de Portugal, D. Nuno Álvares Pereira, agora santificado por Bento XVI e cujo nascimento em 1360 se comemora a 24 (ou 25) de Junho. (...)
Hoje, olhando Nun'Álvares com outra leitura e experiência, o que me continua a fascinar no homem - o santo é outra história - é a sua capacidade de decisão, a sua coragem de escolher coerentemente e avançar com todas as consequências.
Isto sem ser um cabeça quente, um desses militarões básicos, bravos fisicamente, atirados para a frente, mas que às vezes, com essa coragem pessoal extrema conduzem ao desastre. Tipo Custer em Little Big Horn, ou carga da Brigada Ligeira?
Não. Nun'Álvares tem uma coragem (que vem, como tudo nele, na sequência de uma convicção de que Deus está com ele porque a sua causa é justa) reflectida, escolhe bem as posições no terreno, prepara e dispõe os homens adequadamente, procura ler a cabeça e intenções do inimigo, escolhe o momento certo para dar batalha. Mas, uma vez formada essa decisão estratégica, não hesita.(...)
Quando tudo começou, em 1383, os dados objectivos eram contra Nun'Álvares e o partido português de D. João, Mestre de Avis. Tinham com eles o povo de Lisboa e do Porto, alguma arraia-miúda do Alentejo, filhos segundos e bastardos da nobreza, alguns burgueses, alguns bispos. Contra a legalidade senhorial, os chefes das grandes casas, os alcaides dos castelos e sobretudo o exército e a esquadra castelhanos.
Se houvesse então sondagens e analistas políticos, tinham com certeza apostado quase em massa na vitória de D. João de Castela e da união dos reinos, que levaria ao desaparecimento de Portugal.
Era a racionalidade, era o pragmatismo.
Nun'Álvares foi contra tudo isso: com fé, com coragem, mas também com inteligência e o que a arte militar do tempo tinha de mais moderno.
Às vezes, o caminho mais difícil é também o da vitória. Pelo menos nas coisas grandes.

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