Os meus filmes # 5


Há filmes que funcionam como o arco-íris. Precisam de um conjunto de condições para que os possamos ver, para que existam para lá da possibilidade teórica de realmente existirem. Há filmes, como India Song, que se nos apanham no momento certo colam-se à pele e nunca mais de lá saem.

Este filme é um não-filme. É livro com imagens. Em que as personagens estão para além dos corpos que, só por absoluta necessidade, os sustentam.

Penso tê-lo visto em 1983 na Faculdade de Letras de Coimbra, em 8mm, no anfiteatro Paulo Quintela (?). Talvez fosse verão, ou não, não sei. Só sei que o filme era quente e transmitia uma humidade asfixiante que impedia os actores de dormir e de pensar e os (poucos) espectadores de se mexerem sequer no meio daquele silêncio de olhares.
Um filme feito de degraus, por degraus que levam a lado nenhum. Um piano esmagador numa música arrebatadoramente bela e triste. A monotonia de um jogo de xadrez em que as peças dificilmente se movem e uma luz sem cor.

Recordo o momento: aquela calma e aquele tédio sensual e irrepetível.

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