Toural

Pessoalmente desagrada-me que se faça obra por fazer obra. Por vaidade, pela tendência pimba para a “obra”. Não sigo atrás daqueles que acham que se deve fazer uma arranjo em cada esquina, uma obra em cada mandato, atirar o foguete em cada propício momento, com a volátil ilusão de ficar na História.

Sou, como sempre fui, pela recuperação, pela preservação da memória e daquilo que nos distingue. É essa a Europa de que gosto, com todos os defeitos que existam, e que tem gente a viver nos centros históricos e não bancos, ou museus, ou lojas que morrem com o morrer do dia. Ou o fantasma dos mercados que outrora foram vida e movimento.

Estive numa reunião na última quinta-feira e estaria “calado” se não fosse a publicação no Comércio de Guimarães de hoje, de algumas das principais linhas do programa. Sempre assim agi. Ao contrário do projecto anterior este não me pareceu um projecto assente em cima de um parque de estacionamento, mas um projecto com a pretensão de aproveitar e mostrar património que está “escondido” e de melhorar a circulação das pessoas.

O que me agrada (muito):

- A libertação e facilitação de acesso aos “parques” da Alameda (os dois primeiros), podendo entrar-se nos parques por qualquer ponto (tipo bosque).

- O crescimento desses parques em direcção ao Toural.

- A existência de uma plataforma que permita um olhar sobre o esplêndido conjunto de S. Francisco

- A transformação da Torre “aqui nasceu Portugal” em miradouro, com acesso pelas traseiras do Milenário.

- O crescimento geral dos passeios.

- A ligação do Campo da Feira às Hortas (automóvel e peões) pela zona do tanque do Colégio N.Sra.Conceição e recuperação desse mesmo tanque.

- A existência de zonas próprias e exclusivas de paragem de autocarros no último terço da Alameda (perto do Campo da Feira); em baixo e em cima.

O que me agrada (esperando para perceber melhor):

- Que o novo Toural permanece com o mesmo tipo de pedra (apesar de com novo desenho).

- A retirada da rotunda do Campo da Feira.

- A preservação das esculturas de António de Azevedo na Alameda.

O que me desagrada:

- Um Toural basicamente sem árvores; apesar de compreender que a ideia é a de libertar a visão para o belíssimo conjunto de edifícios que o Toural tem.

- A troca da actual fonte (com a estátua do escultor Eduardo Tavares ao que julgo saber) pela fonte do Jardim do Carmo. A actual fonte agrada-me: o regresso ao séc.XIX não me parece grande ideia.

O que me preocupa:

- Preocupa-me imenso que a obra pública não tenha como parceira a obra privada. A Sociedade de Reabilitação Urbana (SRU) para Guimarães é uma urgência, como já há 3 anos defendo. Parte dos fundos da CEC deveriam envolver também os privados para que fosse possível trazer gente para o centro da cidade. Há uma dimensão privada muito mais importante e viva que importa apoiar e incentivar para que Guimarães se continue a afirmar pelo seu património edificado e pela gente que o habita.

- O estacionamento: este deve ser já muito bem pensado e planeado e deve ser fácil e acessível. Concordo com o Parque no antigo Mercado, mas o miolo dos quarteirões centrais deveria ser adaptado a estacionamentos vários, permitindo que as pessoas que venham para o centro, e vivam no centro, tenham onde estacionar. Claro que tudo seria mais lógico com uma SRU. Para melhorar a circulação de pessoas é necessário que elas existam!

Fotos_Casa_de_Sarmento

Comentários

Unknown disse…
Sem árvores Não!... O belíssimo conjunto de casario não fica mesmo nada diminuído com a presença das árvores! E se queremos um Toural vivo (tal como queremos continuar a ter um centro histórico vivo), as árvores são uma componente fundamental. Já passaram no Toural numa manhã de sábado num dia quente de Verão? Onde estão as pessoas? No passeio do lado-sombra ou em grupos sob a sombra das árvores. Tirar as árvores é tirar as pessoas do Toural.

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